não, não é só você que não tem um apartamento próprio com 22 anos.
outro dia uma pessoa super jovem e já bem sucedida (principalmente quando consideramos a idade) me disse que sofre com a sensação de estar sempre atrasada. “ufa, não sou só eu que sinto isso” - foi o meu pensamento imediato. coincidentemente, na semana passada uma amiga me sugeriu esse tema para o blog. achei que valia a pena a tentativa de explicar esse sentimento tão angustiante e o que está por trás dele.
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mental health challenges of young adults (harvard, 2023)
dados apontam que 36% dos jovens adultos relataram ansiedade, 29% depressão. os fatores principais: falta de propósito, pressão por conquistas (achievement pressure) e preocupação com o futuro financeiro. sounds familiar?
vem com a titia que eu vou te dizer exatamente o porquê de você sentir o que sente;
⭐️ falta de propósito: a gen z cresceu sob a promessa de que poderia “ser qualquer coisa”, mas enfrenta dificuldade de encontrar direção num mundo hiperconectado e competitivo; isso gera vazio existencial e sensação de atraso.
quando você tem 1 milhão de caminhos para ser alguém, como você escolhe quem você quer ser? era mais fácil quando era direito ou medicina, agora eu de fato preciso enfrentar o meu eu, inclusive a desilusão dele. é bem mais difícil lidar com as consequências das nossas escolhas e desejos do que é poder culpar alguém por uma decisão terceirizada. quando eu estou no volante da minha vida eu entendo que não faço ideia de aonde quero ir.
🏡 pressão por conquistas: há uma cobrança social constante para ter resultados rápidos > carreira, dinheiro, corpo perfeito, vida social ativa, viagens, engajamento online — tudo antes dos 30. afinal, com 31 você já ta de frauda geriátrica.
gente, eu to falando que esse negócio de rede social ta acabando com a nossa cabeça!!!! e não só com a nossa, meros mortais, ta? celebridades e todo tipo de pessoa bem sucedida se mata porque apesar de todas as conquistas, no final do dia ainda se sentem vazios, perdidos, sozinhos. a resposta nunca vai ser só o material. não somos seres somente físicos, temos alma também. querer se preencher com só o que é físico nunca vai te satisfazer. essa verdade dói e a gente finge que não vê.
💸 preocupação com o futuro financeiro: crise econômica, instabilidade de carreiras tradicionais e custo de vida alto fazem a gente sentir que precisamos correr para não “ficar para trás”. a sensação de que não podemos confiar no nosso estado, no nosso país e no mundo é um pouco (usei do eufemismo sim) desesperadora, e leva a esse sentimento de eu por mim. se eu não fizer, quem vai fazer por mim? e até aí tudo bem!! o problema é entrar nesse funil e não sair mais. não vale a pena se sacrificar por isso. morreu ferrou. ˜to escrevendo e sentindo que to falando isso pra mim kkkkry˜
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self‑imposed pressure, estudo de dela cruz et al. (2025) com estudantes gen‑z nas filipinas
pesquisa define a “pressão autoimposta” como a ansiedade gerada por expectativas internas irreais, que pode causar estresse e esgotamento mesmo na ausência de exigências externas óbvias.
o conceito de self‑imposed pressure refere-se à ansiedade e estresse que a própria pessoa se impõe, mesmo na ausência de demanda externa, motivada por expectativas internas exageradas, perfeccionismo, comparação social e necessidade de excelência. ˜(to explicando isso para você apavorada com o meu auto-diagnóstico)˜
efeitos dessa pressão interna incluem: ansiedade crônica, ruminação, exaustão emocional, queda na autoestima e possibilidade de burnout mesmo sem pressão externa evidente (ta bom pra vc?). mesmo quem vai bem externamente pode se sentir esgotado internamente - lembra da pessoa jovem e bem sucedida que eu comentei no primeiro parágrafo desse texto?
a teoria de self‑imposed pressure explica que mesmo sem cobrança direta externa, muitas pessoas criam uma pressão interna intensa motivada por expectativas irreais. eu, por exemplo, nunca fui cobrada dentro da minha casa. meus pais nunca colocaram uma grande pressão na minha vida, mas eu sim. sempre questionei o motivo disso.
quer se auto-diagnosticar também? vê se você tem esses sintomas:
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mesmo em momentos “livres”, você sente culpa por não estar produtiva — como se sempre houvesse algo pendente.
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a sua pressão interna cria uma linha de chegada imaginária que nunca é alcançada; quando vc bate uma meta (imposta por você), outra maior surge.
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você está em estado de alerta crônico, sente ansiedade, insônia e exaustão emocional (burnout silencioso). acorda pensando no que precisa fazer e vai dormir pensando no que não conseguiu fazer.
por que sofremos mais intensamente com isso do que qualquer outra geração?
porque crescemos em um hiperfluxo digital, onde notícias, conquistas alheias e padrões de sucesso estão disponíveis em tempo real, reforçando a constante impressão de estarmos atrasadas. posso inserir minha opinião aqui? eu tenho muito receio de postar qualquer conquista material na internet porque sinto que isso gera muito mais sentimentos negativos do que positivos nas pessoas. infelizmente. sei que em um mundo ideal seria incrível e todo mundo ficaria feliz e te celebraria, mas no nosso mundo real as pessoas ficam ressentidas, se comparam e se sentem fracassadas e/ou atrasadas. já tem tanta gente postando e falando sobre dinheiro na internet, às vezes, sinto que é tudo o que há.
por fim, há uma inversão de prioridade: se antes as pessoas podiam simplesmente viver o presente, hoje sentimos que precisamos antecipar o futuro, trocando experiências espontâneas por produtividade e planejamento ansioso.
e a pior parte é que você abre o instagram e parece que ta todo mundo em lalaland comendo pirulitos e dançando com unicórnios. ninguém é feliz assim não. ou pelo menos ninguém que pensa. relaxa que ta todo mundo no mesmo barco furado.
sei que você leu até aqui com a esperança singela de encontrar uma saída, uma resposta pelo menos. eu ia escrever uma frase falando que nem eu sabia a resposta, mas eu estaria mentindo. apaguei a frase.
terapia ajuda, mas a única coisa que genuinamente me alivia no meio desse caos é quando paro para pensar que vou morrer. isso é inevitável, irremediável, imutável. eu vou morrer. e não vou levar nada. isso me mantém ligada ao que importa.
imagino que talvez soe antinatural para você que eu sinta paz ao pensar na morte, ou no mínimo estranho, já que é o tema que desespera a maioria. eu entendo porque já me desesperou também - ao ponto de quase me causar crises de ansiedade pensar em perder alguém ou em perder tudo. eu não sou mais evoluída que ninguém, pode ter certeza disso. não é essa a fonte dessa paz.
a gente cresce ouvindo que a morte é o fim, e por isso ela apavora. mas quando você acredita que a vida tem propósito e que existe algo maior do que você, o fim deixa de ser só vazio — ele vira continuidade.
por muito tempo eu não tive essa paz, e se hoje eu tenho é totalmente por essa convicção, é a única coisa que me traz esperança quando só há confusão. não gostaria de voltar a viver sem ela nem por um segundo.
e essa é a minha resposta sincera. você já sabe que não gosto de mentir.
até a próxima terça <3
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