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as mulheres só se vestem para os homens?

as mulheres só se vestem para os homens?

quantas vezes você usou uma roupa sem intenção de conseguir a atenção do cara que você queria? ou de qualquer um?

chegou o momento de batermos no nervo central da identidade de toda mulher. a forma que ela é criada para se enxergar e se projetar ao mundo, e pasmem, como isso tem tudo a ver com a moda.

  • segundo a psicologia social, a roupa é uma extensão do self (erving goffman, 1959, “a representação do eu na vida cotidiana”), a vestimenta comunica identidade, valores e emoções.

Muitas mulheres afirmam que se vestem para si mesmas: como expressão de autoestima, humor ou criatividade. outras admitem que o olhar externo (seja de homens, mulheres ou sociedade em geral) influencia suas escolhas. ou seja, vestir-se é um ato relacional: envolve o “eu” e os “outros”.

desde cedo, meninos e meninas recebem orientações diferentes sobre aparência. as meninas são ensinadas que as roupas são uma forma de atrair os garotos, e argumentos como “compre essa roupa pro seu @ te chamar pra sair”, “compre esse vestido para ficar mais gostosa” são comuns. A lógica principal de venda é baseada na conveniência do outro e no seu corpo.

já os meninos, crescendo sendo instigados a serem astronautas, engenheiros, médicos, advogados. a preocupação nunca é a vida amorosa, na verdade, ela entra como uma distração, uma brincadeira inofensiva que não deve ocupar um espaço primário em suas vidas. o vestuário nunca está ligado à sedução, mas à funcionalidade e expressão de interesses (ex.: camisetas de heróis, tempos, jogos).

e veja bem, o problema não é intenção para o que você se veste, mas sim na falta de consciência que temos das nossas próprias escolhas e interesses. somos doutrinadas ao olhar do outro, e por isso nunca olhamos para nós. A maior questão é como esse incentivo à hipersexualização na infância e adolescência atrapalha o desenvolvimento de uma personalidade.

enquanto os meninos estão descobrindo sobre si mesmos, as meninas estão presas na fantasia da conquista. o que sobra para nós?

eu encaro a moda hoje como uma forma de autoexpressão de uma identidade que lutei muito para descobrir que era a minha. não foi tão fácil, nem tão intuitivo como deveria. mas por que é tão difícil chegar nesse lugar?

no mundo masculino, a vestimenta é socialmente entendida como um marcador de papel e não de sedução.

  • no trabalho: terno e gravata simbolizam competência, poder, racionalidade.

  • no lazer: camisas de tempo ou camisetas “geek” comunicam interesses, hobbies e culturais.

  • no dia a dia: estilos como casual, esportivo ou clássico não carregam nenhuma carga além da autoexpressão.

em síntese: enquanto a mulher é condicionada a pensar a roupa como ferramenta de atração sexual, o homem é ensinado a vê-la como expressão de função ou identidade cultural. essa assimetria não é natural, mas construída socialmente.

ser atraente é durante um longo período de nossas vidas, a única finalidade da moda e da beleza. e por isso, o tempo que seria destinado a descobrir e consolidar uma personalidade (adolescência), é desperdiçado. e da-lhe crise dos 20, o momento que nos enfrentamos no espelho e percebemos que talvez a gente não compreenda tão bem quem somos. nunca vi um homem passar por essa crise.

na formação da identidade, esse movimento tende a limitar o potencial criativo e existencial da moda. a roupa deixa de ser linguagem de expressão interior (de humor, valores, cultura, pertencimento) para se tornar uma espécie de “máscara funcional” a serviço da sedução. isso empobrece a experiência estética, reduzindo a mulher a um papel repetitivo: ser confortável.

a longo prazo, essa identidade pode colapsar em momentos de transição, como envelhecimento, gravidez ou contextos em que a atratividade não é o centro (ambiente profissional, vida espiritual, relações profundas). se você se prepara a vida toda para ser desejado e em um novo espaço isso não é a única métrica, adivinha o que acontece?

Essa problemática se agrava ainda mais quando colocamos uma lupa sobre a nossa herança enquanto nação cultural.

desde o período colonial, o brasil construiu uma imagem do corpo feminino como espetáculo público. escravas eram sexualizadas, mulheres indígenas exotizadas, e a figura da mulata tornou-se, no imaginário nacional, um símbolo de sensualidade para consumo interno e externo. a literatura, a música e depois a publicidade ajudaram a cristalizar essa ideia: a mulher brasileira seria, antes de tudo, sensual. o carnaval é um dos maiores exemplos, a festa que coloca o corpo feminino em evidência como emblema da cultural, reforçando para o mundo a associação entre “ser brasileiro” e “ser ocasional”.

no século XX, a televisão, as novelas e a indústria da moda ampliaram esse movimento. o biquíni brasileiro virou ícone global, as propagandas adquiriram corpos femininos como chamariz de produto, e a televisão consolidou a figura da mulher “gostosa” como padrão de beleza e orgulho nacional. a lógica é clara: atrai olhares, turistas, investimentos e atenção internacional por meio da sexualização da mulher brasileira. vem verão????

o brasil foi embalado para o mundo como “paraíso tropical”, onde tudo é calor, festa e sacanagem. essa identidade foi e é lucrativa — tanto para o turismo quanto para a cultura de massa — e acabou internalizada pelos próprios brasileiros, que se acostumaram a enxergar a sexualidade feminina como traço essencial do país. e adivinha quem paga a conta disso?

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